Quem foi Richard Burton?

Seja em versões de bolso ou na íntegra, os manuais sexuais do Oriente já ocupam as prateleiras de livrarias ocidentais há um bom tempo. Títulos como Jardim Perfumado ou Ananga Ranga podem até passar despercebidos, porém é difícil hoje achar quem não saiba da existência do Kama Sutra. Mas alguém já se perguntou como e quando esses livros chegaram aqui?
As pessoas que se contorcem para fazer as posições sexuais descritas nos livros devem agradecer a um explorador inglês do século XIX chamado Richard Francis Burton. Ele foi um aventureiro, com a vida repleta de descobertas geográficas e intensos estudos sobre costumes sexuais de vários povos, em destaque do Oriente. Por ter ousado traduzir e publicar obras eróticas em uma Inglaterra vitoriana, Burton já merece muito respeito. Mas bom mesmo, é saber como ele passou seus dias: experimentou de tudo e mandou o puritanismo pro espaço.
Burton nasceu em Torquay, Devonshire, em 1821. Filho de um irlandês meio nômade, ele se mudou para a França ainda pequeno. E durante a adolescência, transitou entre este país e a Itália. A diversão de Richard era visitar bordéis, consumir álcool e ópio em excesso e em conseqüência, “experimentar todas as formas de loucura selvagem”. Já nessa época, iniciou seus estudos lingüísticos (ao longo de sua vida aprendeu cerca de trinta idiomas). Aos 19 anos, voltou para a Inglaterra e devido ao seu temperamento, foi expulso da Oxford três anos mais tarde.
Como suas excentricidades não eram bem aceitas na Inglaterra, Burton decidiu servir ao exército e foi enviado para a Índia. È quando começa a sua carreira de explorador. Ele penetrou em Meca disfarçado de muçulmano, investigou minas de ouro no Egito e fez uma expedição em busca da nascente do rio Nilo. O Brasil também fez parte do seu roteiro de viagens. Quando esteve aqui como cônsul britânico, Richard subiu o rio São Francisco e até escreveu um livro(The Highlands of Brazil).
Durante um curto período em Bolonha, o explorador conheceu Isabel Arundell (1831-1896). Parece irônico, mas foi com ela, católica e pertencente a alta sociedade inglesa, que ele se casou. A união não foi aprovada pela família de Isabel e ela abandonou o conforto para se aventurar pelo mundo com Richard. Mas o casamento não modificou a sua obsessão pelo sexo. Se antes Burton perambulava pelos bordéis indianos com seus “dicionários ambulantes” (como ele chamava suas amantes), é ainda dessa forma que aprende sobre costumes sexuais depois de casado.
Ele escreveu livros sobre hábitos tribais de nascimento, casamento, cópula e morte, além de ter discorrido sobre fetichismo e práticas sexuais bizarras. Mas a fama de devasso se consolida quando Burton apresenta suas traduções na Inglaterra. Kama Sutra, o Jardim Perfumado (manual árabe), Ananga Ranga (coletânea hindu de obras eróticas) e poemas de Catulo (poeta latino) fazem parte da lista. Porém, o livro As mil e uma noites (reunião de contos árabes) é o mais citado. A obra foi traduzida antes pelo francês Antoine Galland, mas em uma versão censurada. Além de traduzir a obra na íntegra, Burton acrescentou notas sobre pornografia, homossexualidade e pedofilia, o que causou escândalo na sociedade britânica.
Depois de anos de viagens e experiências em inúmeras culturas, Burton se acomoda em Trieste, na Itália. Com problemas de saúde, morre aos 69 anos. Viúva, em um acesso de ira católica, Isabel queimou notas e documentos de quase quarenta anos de pesquisa, restando os livros de viagem e algumas traduções. Isso por causa do conteúdo enfaticamente sexual dos escritos. Mas tal atitude não impediu que ainda hoje, a ambição de Burton em desbravar universos desconhecidos e proibidos e levá-los até uma outra parte do mundo, puritana e moralista, seja enaltecida.
postado por Tess Chamusca | 2:35 PM
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial