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terça-feira, julho 12, 2005

Como discutir sexo na TV?


O sexo transita pela programação das emissoras brasileiras, ninguém discute, é um assunto que vende. Mas ele sempre está na superfície, seja em cenas bem apimentadas das novelas ou nas mulheres rebolando com roupas ínfimas em programas de auditório. O público da tv nacional quase não tem a oportunidade de ver o sexo sendo discutido abertamente na tela. O Ponto Pê, transmitido pela MTV das 22 às 23 horas, todas as sextas, tenta preencher esta lacuna.

A apresentadora Penélope Nova inicia o programa realizando uma enquete. Os temas podem ser tão superficiais como o que fazer com uma estátua de chocolate do Elton John, exposta em um Museu de Cera londrino. Daí em diante, Penélope tira dúvidas do público deitada numa cama, ajeitando compulsivamente sua franja. Como não possui formação na área, ela conta apenas com sua experiência de vida para responder as perguntas.

Assistir ao Ponto Pê é como conversar com uma amiga mais velha e desbocada que pode ou não lhe dar conselhos sensatos. Ao ser questionada por uma garota sobre como convencer o namorado a fazer sexo a três, Penélope aconselha a telespectadora a pensar melhor, já que poderia ter ciúmes da outra menina depois. Mas recomenda a um jovem que apenas se masturbe para resolver problemas de ejaculação precoce e até considera surreal dar esse tipo de dica na televisão: "Prefiro nem pensar nisso".

Sem dúvida, o atrativo do Ponto Pê é a figura de Penélope, descolada, cheia de tatuagens, e sua "boca suja". Mas para um programa que se propõe a tirar dúvidas sobre sexo para um público jovem notadamente desinformado sobre o assunto, soa irresponsável confiar em "achismos" e em um vasto repertório de palavrões para solucionar os questionamentos. Afinal, para discutir sexualidade com desenvoltura é preciso algo mais do que simplesmente falar devassidão.

O receio de fazer algo que mais pareça um telecurso sobre sexo provavelmente habita as mentes dos realizadores do programa. Mas o sexo não precisa se resumir a entretenimento para dar certo na televisão. Um bom exemplo disso, é o programa exibido no canal fechado GNT, Falando de sexo com Sue Johanson. Em trinta minutos, a apresentadora, que só assume ter passado dos 69 anos, indica livros, tira dúvidas com precisão, clareza e senso de humor, testa a utilidade de artigos de sex shop e se despede nos deixando com a sensação de que aprendemos muita coisa.

A pretensão de abordar o sexo com seriedade é declarada por Sue desde o início do programa: "Tenho uma equipe de especialistas, um grupo para testar os brinquedinhos, e me informo todos os dias sobre sexualidade e saúde". A formação da apresentadora não deixa dúvidas de que o programa tem conteúdo. Sue é formada em Enfermagem, PhD em Relações Humanas pela Universidade de Toronto, e leciona aulas de educação sexual em escolas.

Mas ela não imprime um tom professoral ou técnico às suas falas. E tampouco assume o papel da vovó tarada. Não fala de sua vida pessoal, de possíveis proezas sexuais nem derrama palavrões, apenas acredita que com palavras diretas, a sexualidade pode ser discutida com mais facilidade: "Não chame a vagina de 'o lugar lá embaixo', chame de vagina mesmo".

Por ser uma mulher setuagenária, surpreende ao desmistificar temas dados como discutidos por jovens escritoras de livros sobre sexo, como a injeção de ânimo na vida sexual proporcionada por orgasmos simultâneos. "Esqueça isso, você perde a oportunidade de vislumbrar sua parceira se contorcendo e gemendo enquanto tem um orgasmo se você também está tendo um".

A naturalidade com que Sue recebe as perguntas e encara qualquer tipo de comportamento sexual não é um indicativo de frieza da apresentadora. Pelo contrário, o público se sente a vontade para questionar qualquer coisa, pois sabe que para ela, as fronteiras da normalidade no terreno sexual são muito mais amplas do que se imagina.

Mesmo com toda a bagagem de conhecimentos sobre sexo, Sue não mede esforços em assumir que desconhece algum assunto ao ser questionada. "O homem sente o sabor diferente ao fazer sexo oral em uma mulher que comeu comida picante?", pergunta uma mulher. Sem maiores constrangimentos, a apresentadora diz que não sabe, mas promete trazer a resposta no próximo programa, mostrando que na tv, o conhecimento sobre sexo pode ser construído a partir da união entre descontração e compromisso.

postado por Tess Chamusca | 4:30 PM

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