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segunda-feira, junho 04, 2007

Que tal lembrarmos que a prostituta é uma mulher?


A prostituta nunca ocupou um lugar digno na sociedade. As artes até lhe concederam certo glamour, mas sua função sempre foi realizar uma espécie de equilíbrio sexual dos povos. Ela, pessoa vulgar e despudorada, era a única que podia conter os desejos masculinos mais escusos, algo impensável para uma "boa e casta esposa". O movimento feminista deu uma ajudinha: vender prazer significava reafirmar a supremacia dos homens.


Por causa da vida sexual atribulada, as prostitutas também ganharam a fama de disseminadoras de doenças venéreas. Os primeiros estudos sobre a profissão, feitos no século XIX, durante a epidemia de sífilis na Europa, serviram apenas para reforçar o estigma: meretrizes são criaturas contagiosas. Era preciso reprimi-las para preservar a saúde dos homens e de seus familiares. Daí veio a Aids e o lugar garantido na lista dos grupos com comportamento de risco. E em nome do bem-estar da população, até hoje governos mantêm políticas higienistas que não respeitam a cidadania de profissionais do sexo.


O preconceito persiste, mas as prostitutas já não se consideram vítimas do sistema patriarcal. O que se vende são fantasias e jogos eróticos e não corpos, esse é o atual discurso das militantes. Marilene Silva, baiana de 35 anos com 23 de prostituição (sim, ela começou ainda adolescente) faz questão de dizer que a atividade foi uma escolha sua: “Já tive oportunidade de ter outros empregos, mas não quero. Trabalho a hora que desejo, não tenho do que reclamar”. Também é preciso desmistificar alguns detalhes! Essas mulheres não são máquinas de fazer sexo. Durante alguns programas, só escutam o desabafo de maridos frustrados ou inseguros e criam laços de afetividade com clientes mais carinhosos, que chegam a ser fiéis (!) por anos.


Mas, a prostituição exige custos que vão de repressão policial e agressões de alguns clientes à necessidade de esconder a profissão para a família e dificuldade de acesso ao sistema público de saúde. Gabriela Taylor, cearense de 29 anos que se prostitui aqui em Salvador há quatro, vê a atividade como uma ocupação temporária: "As pessoas não respeitam a gente. Já tive que fazer um programa com uma arma na cabeça e sem ganhar nada. Não pretendo fazer isso minha vida inteira. Quero ser dançarina e já estou dando aulas particulares".


Existe um aspecto que vai além da polêmica que a atividade causa: Não é porque vivenciam sua sexualidade de modo diferenciado que prostitutas não podem ser mães, esposas, filhas... Como toda mulher, elas vão pra casa depois do trabalho e lidam com a rotina doméstica. É porque esquecem da vida privada das profissionais do sexo que os programas de saúde e prevenção do governo podem acabar falhando. Apesar de impor a obrigatoriedade da camisinha na profissão, em nome do afeto, como grande parte das mulheres "comuns", as prostitutas se descuidam quando fazem sexo com seus parceiros fixos.


No post abaixo, explico um pouco das políticas governamentais e legislações direcionadas para prostitutas. Creio que o esclarecimento é sempre um grande passo para a diminuição do preconceito!

postado por Tess Chamusca | 9:48 AM

5 Comentários:
Blogger graciela natansohn disse...

oi!
a propósito do tema, tem uma tese muito legal, defendida há pouco, sobre as prostitutas que integram o sindicato, APROSBA, e como vivenciam seu trabalho. É de autoria da Prof. Mônica Benfica e muito interessante.
Legal o blog! Parabens, Tess.
graciela n.

14:04  
Anonymous Anônimo disse...

as prostitutas já tiveram e têm vários nomes que refletem um preconceito secular...é super importante lembrar que são mulheres como todas as outras e que geralmente escolhem essa profissão porque são sozinhas e precisam sobreviver em meio a um contexto de exclusão e privação de direitos.

Amiga Tess, parabéns pelo seu blog! Está muito bom, qualidade, texto muiiiito gostoso de ler!!

Saudades, viu nega? beijo imenso!!

12:19  
Blogger desorganizando disse...

Hum, vc já leu os livros da Margareth Rago e da Marta de Abreu esteves? Respectivamente Prazeres da Noite e Meninas Perdidas? Caso não tenha os lido. Recomendo, são ótimos pra entender a relação entre a estrturação da familia Burguesa e o controle do corpo feminino. Depois se vc quiser posso inddicar mais coisas.

21:35  
Anonymous Anônimo disse...

Tessinha, adorei o texto! Muito bem escrito, viu?! Tá de parabéns!
Só puxando a sardinha pro meu lado, não vamos desfazer um mito alimentando outro: falar em 'menor de idade' é alimentar um preconceito de séculos contra CRIANÇAS e ADOLESCENTES q simplesmente não nasceram pobres e excluídas. Menor é sempre o filho do pobre, criança é sempre o meu filho.
Bom, bom, bom, sei que a intenção não foi essa fofinha, nós costumamos mesmo reproduzir preconceitos sem perceber.
Beijo azul no teu coração

00:13  
Blogger Azrael disse...

Tess, olha parece q a onda de agressão continua...

veja esse link aew: http://noticias.uol.com.br/ultnot/2007/07/07/ult4469u6743.jhtm

15:31  

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