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terça-feira, setembro 11, 2007

Luz del Fuego


Mesmo antes de se tornar figura polêmica, Luz del Fuego já dava sinais de que não seria uma mulher pacata. Nasceu Dora Vivacqua em Cachoeiro do Itapemirim, cidade do Espírito Santo, em plena segunda-feira de carnaval, no dia 21 de fevereiro de 1917. Quando adolescente, passeava pela praia de calcinha e bustiê improvisado. Vejam só! Leila Diniz, na verdade, foi uma retardatária.

O Rio de Janeiro era o lugar de seus sonhos. Somente depois de um conturbado caso amoroso, um flagra na cama com o marido da irmã e duas internações em clínicas psiquiátricas (afinal ousadia e loucura sempre foram confundidas!), ela se revolta com a família e resolve viver por conta própria na cidade maravilhosa.

Já nessa época, Dora demonstrava alguma intimidade com serpentes e coreografias. Mas, se tornou dançarina ao fazer um curso na academia Eros Volúsia. Engraçado como pessoas afins acabam se encontrando. A artista que deu nome à escola também ficou famosa por seus ímpetos inovadores ao agregar traços brasileiros ao balé clássico.

“Respeitável público, com vocês a única, a exótica, a mais sexy e corajosa bailarina das Américas: Luz Divina e suas incríveis serpentes!". A grande estréia foi em 1944, no Circo Pavilhão Azul, com a companhia das jibóias Cornélio e Castorina, parceiras de toda a vida. Somente em 1947, surge Luz del Fuego, por conta de um conselho estratégico: nome estrangeiro traz público. A inspiração veio de um batom argentino recém-lançado.

Luz invade o teatro e contracena com Dercy Gonçalves, Elvira Pagã (sua rival-mor), Grande Otelo, Domingos Risseto (grande parceiro) e outros. O irmão Atílio, na época senador, a enxergava como uma ameaça à sua carreira. A publicação do diário da dançarina intitulado "Trágico Black-Out", em 1947, só aumentou a aflição do político, que queimou mais da metade da edição de mil exemplares.

Sua atuação no cinema também causou furor. Luz del Fuego inaugura o strip-tease no cinema nacional ao atuar no filme Comendo de colher (1959) do diretor carioca Al Ghiu. Participou de mais uns cinco longas e foi tema de Nativa Solitária (1953), documentário feito pelo cineasta mineiro Almeida Fleming.

Vocês devem estar pensando: “Então, ela foi só mais uma vedete”. Ledo engano! Luz del Fuego trouxe o naturismo para o Brasil. Em seu primeiro livro, ela já dava umas pinceladas sobre o tema, mas foi em 1950, ao lançar “A Verdade Nua”, que descreve sua filosofia naturista. Engajada, Luz fundou e presidiu o Partido Naturista Brasileiro. E ainda seduziu o ministro da Marinha para ter a cessão da ilha de Tapuama de Dentro. Lá criou, em 1954, o Clube Naturista Brasileiro.

Domingos Risseto batizou o lugar com o nome Ilha do Sol. Na metade dos anos 50, o local já era uma das grandes atrações do Rio de Janeiro. Várias estrelas do cinema americano o conheceram: Ava Gardner, Brigitte Bardot e Steve MacQueen são algumas delas. Para entreter seus convidados, Luz fazia shows e passava documentários sobre colônias nudistas da Europa. As regras de conduta eram rígidas, nada de sexo e bebidas alcoólicas.

Nos anos 60, com a idade chegando e o dinheiro diminuindo, a dançarina perdeu a fama. No dia 19 de julho de 1967, foi assassinada pelos irmãos Alfredo e Mozart "Gaguinho" Dias. O crime foi motivado por vingança. Ela havia denunciado os dois à polícia.

Pena que uma mulher tão vanguardista tenha ficado no limbo. Ao menos os naturistas e Rita Lee reconhecem sua importância. O aniversário de Luz Del Fuego marca o Dia Nacional do Naturismo e a Rita Lee compôs uma música que tem seu nome.

Para quem quiser saber mais sobre a vida da dançarina, deixo aqui duas indicações: o livro “Luz del Fuego - A bailarina do povo”, escrito por Cristina Agostinho e o filme que tem seu nome, dirigido por David Neves e protagonizado por Lucélia Santos.

postado por Tess Chamusca | 5:31 PM

3 Comentários:
Blogger Camilla Costa disse...

Massa, Tessie!
Eu sempre via Luz Del Fuego como uma espécie de Mata Hari latina =P

21:10  
Anonymous Anônimo disse...

Valeu a pena esperar tanto tempo por um novo texto. Muito bom!

10:18  
Blogger Unknown disse...

Fui o responsável pelo dia nacional do Naturismo ser comemorado no aniversário de Luz del Fuego. Foi uma luta de anos, mas me sinto feliz de ter conseguido.
Mas tem algo sobre a morte de Luz que muito me intriga. O método pelo qual ela foi morta era um dos métodos usados pela ditadura. E sinceramente, uma mulher de mente livre com Luz, não se curvaria nunca para o militarismo. Duvido muito que tenha sido morta pelos pescadores.

Abraço

00:38  

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