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terça-feira, março 18, 2008

O aborto na mira da Campanha da Fraternidade 2008

Mal a Quarta-feira de Cinzas chegou, levando a festa da carne embora, e a Igreja Católica já mexia os pauzinhos para o lançamento da Campanha da Fraternidade (CF) desse ano. Depois de falar da Amazônia (2007), pessoas com deficiência (2006), solidariedade e paz (2005), e água enquanto fonte da vida (2004), o tema escolhido para este ano foi “Fraternidade e Defesa da Vida Humana”.

Com o lema “Escolhe, pois, a vida”, a Igreja Católica resolveu dedicar o ano de 2008 ao combate de questões como eutanásia, pesquisa envolvendo células-tronco, aborto, contracepção e prevenção do HIV. Não que esses temas tivessem sido deixados de lado pela Igreja, muito pelo contrário. A diferença é que agora eles assumem um papel central no discurso católico.

A escolha do aborto com um dos pontos principais da Campanha de 2008 é bem estratégico, quando consideramos toda a discussão, encabeçada principalmente pelo Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sobre a descriminalização do aborto e o tratamento deste como um problema de saúde pública.

Marcando a posição contrária da Igreja Católica à ampliação das hipóteses de aborto legal no país, o documento oficial da CF utiliza uma série de argumentos religiosos, científicos e éticos na tentativa de mostrar que o aborto constitui-se num atentado contra o direito dos bebês não-nascidos à vida. “O aborto provocado nega a uma criança o direito de viver quando ela ainda não pode se fazer ouvir”, diz uma passagem do texto.

O documento questiona também estatísticas divulgadas pelo Governo Federal que apontam a realização de quase 230 mil internações por ano no SUS para tratar de complicações causadas por abortos clandestinos e, ainda, de aproximadamente 150 mil mortes de mulheres decorrentes do mesmo problema.

Sobram críticas ainda aos profissionais de saúde que defendem a prática, aos países onde o aborto é permitido e ao discurso feminista, por defender o direito da mulher em decidir sobre a gestação: “A luta pela emancipação da mulher exigiria o preço da liberação do aborto para que ela se torne efetivamente dona de seu próprio corpo. Este argumento ignora que a criança por nascer é o outro ser presente. Não é um simples órgão doente que se quer retirar”.

O documento que traça as diretrizes para a Campanha 2008 está disponível aqui.


Escolhe, pois, o aborto.

Aparentemente, nem todo católico compartilha a mesma opinião quanto ao aborto. Contrariando a posição oficial da Igreja, a ong feminista Católicas pela Direito de Decidir (CDD) se declara favorável não somente à legalização do aborto no país, como também ao uso da camisinha e à expressão livre da sexualidade.

Em seu site oficial, a ong defende que a maternidade deve ser uma escolha e não um destino imposto por outras pessoas, religiões ou governos: “Uma sociedade só pode ser considerada justa se as mulheres tiverem possibilidade de decidir sobre seu corpo e, portanto, sobre suas vidas. Poder escolher quando ser mãe e quantos filhos deseja ter é essencial para isso”.

A CDD atua no Brasil, desde 1993, em articulação com a rede latino-americana Católicas por El Derecho a Decidir e a norte-americana Catholics for Free Choice, promovendo os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, e a luta pela igualdade nas relações de gênero no interior da sociedade e da Igreja Católica.

Para a Igreja, no entanto, o grupo não tem nada de católico, apenas de abortista. Receberia milhões de dólares de grupos norte-americanos abertamente anti-vida, como a Fundação Ford, para eliminar o maior opositor do mundo contra o aborto, ou seja, a própria Igreja.

Segundo Jerson Lourenço Flores Garcia, representante do Movimento em Defesa da Vida, as CDD não devem ser consideradas católicas porque “ao interpretar os crimes contra a vida como legítimas expressões da liberdade individual, exigindo ou reconhecendo legalmente o direito de matar, se subverte a base dos direitos humanos e se nega o direito à vida". Coisa que católico nenhum deve fazer.

O provocativo desenho publicado nesse post foi criado pelo competentíssmo Guto Chaves, que, de agora em diante, será o ilustrador oficial do Gritos e Sussurros! O portfolio dele é: http://gutochaves.zip.net/

Patrícia Conceição

postado por Tess Chamusca | 1:07 PM

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