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sábado, março 08, 2008

O que pensamos sobre tudo isso..

Um dos dias em que fiquei mais puta com essa história de ser mulher em uma sociedade patriarcal foi quando fui chamada de baixinha por um homem totalmente desconhecido. Baixinha? Peraê. Eu moro no Brasil e, medindo 1,74, definitivamente não posso ser chamada de baixinha! Aí a ficha caiu! Era só mais uma das várias maneiras que eles encontram de nos dizer: lembra do seu lugar.

Não vamos negar. Séculos e séculos se passaram, mas ser mulher ainda apresenta alguns impasses. Experimente ir a um bar sozinha ou acompanhada de uma amiga e depois me diga se sua conversa não foi insistentemente interrompida. Imagina. É claro que ir a um lugar como esse sem a companhia de um homem significa que você está à caça de outro.

E assim vai, da simples roda de conversa sobre futebol, na qual você NUNCA será escutada, até as vagas de emprego ou os salários mais altos que deixamos de ganhar por conta de critérios machistas no lugar da avaliação de competências. E, uma das piores sacanagens que têm feito conosco, a escolha entre carreira e filhos.

Contudo, mais do que essa série de entraves, o que me preocupa é o posicionamento das mulheres frente a eles. Depois que nós aprendemos o caminho da rua (Salve Betty Friedan!), resolvemos que o mundo seria nosso (e não duvido que seja), mas volta e meia nos mostramos bastante paradoxais.

Que me perdoe Freud, não tenho inveja alguma do pênis. Sou amiga íntima da minha anatomia! Mas, infelizmente, nem todas as mulheres aprenderam que ter autonomia sobre o corpo não significa sair dando indiscriminadamente. E haja bitch pra cá, cachorra pra lá. Vai me dizer que só os homens têm culpa no cartório?

Como queremos ter a nossa individualidade respeitada, se muitas de nós ainda valorizam só o homem provedor? É inevitável, quem paga as contas acaba controlando a vida. E assim, se reafirmam as mulheres submissas que não possuem a noção exata do que estão fazendo ao colocarem seus filhos para exibirem os pintos na rua quando eles sentem vontade de fazer xixi.


Tess Chamusca








Dizer que sangramos (e sofremos) todo mês pode ser clichê. Mas talvez qualquer criatura do sexo masculino que enfrentasse, por pelo menos um mês, a tal da menstruação entenderia o porquê da recorrência ao tema.

Pensando na data de hoje, é claro que muitas coisas mudaram para melhor: já está mais fácil tomar nossas cervejinhas em paz, o mercado de trabalho tem nos olhado menos feio ultimamente, e os homens até têm percebido que a vassoura é um objeto unissex.

Ainda assim, convivemos diariamente com desigualdades e desrespeito. Se o assunto é futebol, ainda precisamos gritar para ser ouvidas. Se o ônibus está cheio, por que nos importaríamos com uma roçada de leve? Até porque usamos saia para isso, não é meninas?

As barriguinhas – nem tão inhas – de chope ainda são preocupação exclusivamente nossa. Homem barrigudinho continua sendo charme, enquanto nós acumulamos apelidos nada lisonjeiros, como metralhada, por exemplo.

No volante, as buzinadas são sempre para nós. Fato que tem menos relação com culpa propriamente dita e mais com um prazer inexplicável de buzinar - para uma mulher, claro!

Para piorar, o Higgfly definitivamente não colou e, nessas horas, sou obrigada a concordar com Freud que um pintinho faz falta.

No meio desse caos, fico pensando na real necessidade dessa data e no que significa ser mulher nos dias de hoje. Difícil responder sem cair em inúmeros clichês. Então, vou derramá-los.

Ser mulher é ser Beralice. Criou quatro filhos sozinha, sem nunca ter deixado de arranjar casos e namorados por aí.

Ser mulher é ser Tatiana. Ama loucamente as mulheres, mas não consegue escapar dos olhares tortos da maior parte delas.

Ser mulher é ser Michele, para quem é um grande absurdo uma dama pegar qualquer peso superior a 500 gramas quando há um homem num raio de 3 km.

Ser mulher é ser Greice. Média, pesquisadora, esposa, mãe, militante. Tudo ao mesmo tempo. Agora!

Ser mulher é ser Érica, para quem três nunca é demais.

Ser mulher é “ser mulheres”.

Pronto. Clichê final.


Patrícia Conceição

Para os curiosos: Ilustra o nosso post o quadro Die Tanzerin, do pintor vienense Gustav Klimt. Porque Klimt? Isso é assunto para outro texto!

postado por Tess Chamusca | 5:22 PM

2 Comentários:
Blogger Inês disse...

Adorei os textos! O blog que eu fiz para a oficina de digital também é sobre mulheres, Gritos e Sussurros virou fonte para a gente.
Beijos!

13:21  
Blogger Ana Carolina disse...

Oi Tess, havia dias que te procurava...nada que o google não resolva, assim te achei. Gostei bastante do seu blog, vou me tornar frequentadora! Beijo. Carol (aquela de Camaçari, que estudou com Gal no Cema, lembra?)

19:10  

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